Flávio Carneiro

Bodas de Papel

LONGA-METRAGEM
ANO: 2008


Roteiro: Adriana Lisboa e Flávio Carneiro
Direção: André Sturm
Elenco: Helena Ranaldi, Darío Grandinetti, Walmor Chagas, Cleide Yaconis, Antonio Petrin, Angela Dip, Sergio Mamberti, Imara Reis, Natalia Lorda

SINOPSE

"Serendipity [ing.] s.m. - 1. aptidão, faculdade ou dom de atrair o acontecimento de coisas felizes
ou úteis, ou de descobri-las por acaso; 2. palavra cunhada, em 1754, por Horace Walpole (1717-1797, escritor inglês), a partir do conto de fadas Os três príncipes de Serendip, cujos heróis sempre faziam descobertas, acidentalmente ou por sagacidade, de coisas que não procuravam."

Candeias, uma pequena cidade do interior de São Paulo, é esvaziada para a construção de uma usina hidrelétrica. Ali, Nina passou boa parte de sua infância e adolescência, na companhia do avô, dono do único hotel da cidade e que não resiste à mudança para a capital, falecendo pouco depois. A imagem da cidade permanece na memória de Nina, que dela se lembra com especial afeição.
Anos depois, Nina lê no jornal que o governo desistiu do projeto de construção da hidrelétrica. Candeias, então, ainda com ares de cidade fantasma, vai aos poucos readquirindo vida, com o retorno de alguns moradores, entre eles Nina, que decide reformar e administrar o hotel do avô.
Miguel, um arquiteto argentino radicado em São Paulo, também vai para Candeias, com objetivos diferentes, a trabalho. Uma antiga moradora, Dona Cecília, o contrata para a reforma de uma casa.
Na cidade que vai renascendo aos poucos, Miguel e Nina se conhecem e dão início a uma relação amorosa que vai mudar, para sempre, a vida dos dois.
Narrado de forma não linear, com idas e vindas no tempo, o filme alterna cenas do casal com imagens da cidade. O renascimento da cidade acontece em paralelo com o renascimento de Nina e Miguel, que, ao se conhecerem, começam uma nova vida, mais tranqüila e ao mesmo tempo mais intensa do que a que viviam antes. Assim, dá-se um dos jogos de espelhamento que vão compondo o filme.
Atravessando a história principal, de Nina e Miguel, há várias outras pequenas histórias, como se se tratasse de uma narrativa à la Sherazade, com uma história brotando de outra num processo que parece infinito. Todas essas histórias são entremeadas, também, pela narrativa de "Os três príncipes de Serendip", de Horace Walpole, que é contada ora pelo avô de Nina, que tem a neta como ouvinte, ora pela própria Nina adulta, narrando o conto para Miguel.
Tudo no filme, portanto, gira em torno da ficção, da narrativa, da arte de contar histórias. E tudo se dá a partir do mote sugerido pelo conto de Walpole, que cria a palavra "serendipty". Desse modo, Nina vai para Candeias em busca de um passado e se depara com um presente, no duplo sentido da palavra, ao conhecer Miguel. E este, que vai para a mesma Candeias em busca de uma oportunidade de trabalho, acaba encontrando o grande amor de sua vida.
O filme conta também com uma série de inserções de desenhos que são feitos por Nina e vão pontuando a história. São ilustrações que ela vai fazendo aos poucos, referentes a episódios do conto de Horace Walpole.
Todo o clima do filme busca explorar a fantasia, a imaginação. Seja nos desenhos, seja nas imagens da cidade, seja nos diálogos ou na narração de "Os três príncipes de Serendip", seja, ainda, por detalhes que vão formando as histórias paralelas, a fantasia está presente. E é esta mesma fantasia que, de um modo ou de outro, marca a vida de cada um dos personagens, envolvidos numa espécie de tapete mágico tecido aos poucos pelo próprio desenrolar da história, à moda da habilidosa "tecelã das noites", Sherazade, que de cada narrativa sabia retirar uma outra, e desta mais uma, numa sucessão que tem continuidade na imaginação do leitor.


Outras Publicações







Voltar