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NÃO FAÇO CRÍTICAS DE AUTORES RUINS
Jornal Zero Hora (Porto Alegre), 28/08/2007.
Entrevista concedida a Cleber Bertoncello.
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Flávio Carneiro, 45 anos, é escritor, professor de literatura, crítico literário e roteirista. Goiano radicado há muitos anos no Rio de Janeiro, ele ministra, dentro da 12ª Jornada de Literatura, o curso A ficção brasileira do início do século XXI, de hoje até sexta-feira, e participa hoje, às 19h30min, do debate Arte e Entretenimento, no Circo da Cultura. Ele foi um dos finalistas do Prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura.
É a sua primeira visita à jornada literária de Passo Fundo? No seu entender, por que eventos desse gênero e porte são algo quase raro no Brasil?
Esta é minha terceira vinda a Passo Fundo. Mas as duas anteriores ocorreram há quase 20 anos, dentro de um programa federal chamado PROLER. A Jornada não é um evento, mas sim um movimento literário, com atividades permanentes e continuidade. É isso que falta nos bons projetos culturais brasileiros: continuidade. Esse feito alcançado em Passo Fundo é um ato heróico.
O senhor atua em diversas áreas da literatura. À qual se dedica mais atualmente?
Hoje, me divido basicamente entre a função de professor e de escritor de ficção. Essas duas são para a vida toda. Já roteiros eu realizo menos, até mesmo devido ao fato de que num romance, por exemplo, você não precisa de um convite para publicar. Temos vários exemplos de autores que conseguiram eles mesmos lançar suas obras, ao contrário de um roteiro para o cinema, que já é mais complicado porque envolve várias pessoas, muito dinheiro e o roteiro acaba sendo uma parte de um projeto mais amplo. O roteirista, portanto, não depende só dele mesmo.
Boa parte dos críticos literários brasileiros não avalia obras relativamente novas. Eles aguardam o passar de um período de tempo considerado prudente para, só então, esboçar seus pensamentos sobre determinado livro ou autor. O senhor já atua de maneira diferente, avaliando obras recentes e até mesmo lançamentos. Qual a razão desta diferenciação?
Realmente, a crítica defende a idéia de que só se pode falar de um autor com um certo distanciamento. Essa demora esconde uma presunção do crítico de ser o dono da última palavra. Para esse tipo de crítica, autor bom é autor morto. Acho que se deve sim falar do presente, sem a presunção de ser dono da verdade, apenas emitindo um parecer crítico sobre determinada obra, tentando ver inclusive qual o lugar dessa obra com relação à tradição e também à produção literária contemporânea.
Qual seu principal critério ao construir uma crítica literária?
Eu tenho para mim o pensamento de não fazer crítica de autores ruins. Como o espaço na mídia para a literatura é muito pouco, prefiro colocar alguém bom, mesmo que tenha pontos negativos a serem citados. Alguns críticos gostam de arrasar autores, o que acaba fazendo com o que o crítico apareça mais, em termos midiáticos, do que os autores que critica. Não acho que a função da crítica seja essa.
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