Flávio Carneiro
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História policial que valoriza o gênero no Brasil
Renata Magdaleno
Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 01.02.2014.

As principais pistas para desvendar O livro roubado, lançamento do escritor Flávio Carneiro, estão na própria capa. A primeira delas é o nome do autor. Flávio tem 15 livros publicados, entre romances, coletâneas de contos, crônicas e ensaios. É também professor de literatura da Uerj, com uma carreira longa de estudos na área e paixão pelos romances policiais. O livro roubado é o seu segundo romance do gênero que consagrou Arthur Conan Doyle. O leitor que percorre suas páginas entra numa história cercada de muitas outras histórias, referências que vão de autores clássicos como Edgard Allan Poe, o pai do policial dedutivo; o argentino Jorge Luís Borges, até o brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza. Um livro que faz você se lembrar de como é bom um romance policial de qualidade e, ao mesmo tempo, uma verdadeira aula sobre o gênero.
Na história, André, mais uma vez (o personagem é protagonista também de O campeonato) adota a personalidade de detetive por acaso. Procurado por um milionário, o rapaz, um leitor compulsivo, que chegou a ser demitido de diversos empregos por não conseguir desgrudar dos livros durante o horário de trabalho, é encarregado de descobrir o destino de um livro roubado, uma edição rara de Histoires extraordinaires, de Poe, livro onde estão reunidos alguns dos principais contos do autor, como "Os assassinatos da rua Morgue", o primeiro conto policial que se tem notícia, publicado pela primeira vez em 1841.
Para ser seu assistente, André chama seu amigo Gordo, dono de uma loja de livros usados, frequentada por personalidades nada convencionais, que vão contribuindo para dar um ar de mistério ao mundo dos livros. Na trama, os segredos dos alquimistas e a presença de sociedades secretas. Como cenário para as muitas discussões, um roteiro que percorre os mais tradicionais botequins cariocas. E a dupla de investigadores vai ganhando cada vez mais adeptos, já que eles dividem as descobertas com todos que cruzam o seu caminho. Até um motorista de táxi acaba envolvido na investigação, uma história que trabalha também a todo momento com o tema do duplo.
Flávio Carneiro não é um escritor apenas de romances policiais, mas está contribuindo para inscrever o país na rota do gênero. Apesar das publicações de mistério sempre terem feito sucesso pelo mundo, no Brasil as tramas policiais demoraram a emplacar. Só no fim do século XX uma série de autores nacionais começou a investir nas histórias de detetive, antes disso, o país tinha apenas casos isolados. Como estímulo, um mercado nacional que passou a apostar nas tramas de mistério, com as editoras investindo em coleções dedicadas ao gênero e livrarias destinando estantes inteiras apenas para os livros de suspense.
De lá para cá, já surgiram autores que se consagraram com a escrita de histórias de detetive e contribuíram para cativar um público fiel. Garcia-Roza, por exemplo, se transformou no autor brasileiro de policiais mais bem sucedido e as andanças de seu delegado Espinosa por Copacabana já se transformaram em um clássico. O André, de Flávio Carneiro, vem contribuindo para que as histórias de mistério não sejam vistas apenas como um bom divertimento, mas consideradas literatura de qualidade. Embora O livro roubado seja um divertimento dos melhores.



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