Flávio Carneiro
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Futebol + literatura = paixão
Flávia Guerra
Jornal Diário da Manhã, Caderno DM Revista. Goiânia, 17.11.2009

Duas paixões antigas (e avassaladoras!) expressam com riqueza de detalhes em textos escritos ao longo de dois anos. Assim pode ser definido Passe de Letra, o novo livro do escritor, crítico literário, roteirista e professor Flávio Carneiro, goiano radicado no Rio de Janeiro, que utilizou a literatura para expressar seu amor pela arte do futebol, ainda o esporte mais popular do Brasil. A obra, que será lançada hoje em Goiânia, reúne crônicas publicadas no jornal Rascunho, de Curitiba, periódico especializado em literatura. Em 168 páginas, transforma passes, jogadas e dribles em experiências marcantes, histórias com enredo, personagens e narrador.
Ex-jogador, torcedor e técnico, como milhares de outros brasileiros, Carneiro quis passar para o papel o drama, a tragédia, a comédia e o suspense existentes em qualquer partida, no grito da torcida. Para o autor, que praticou o esporte dos 11 aos 18 anos de idade, Passe de Letra, lançado pela Editora Rocco, é a realização de um antigo sonho: unir suas duas paixões, futebol e literatura, num mesmo espaço, a partir de uma abordagem pessoal e memorialística de ambos os temas. Segundo ele, os textos foram escritos de forma atemporal, não se prendendo a datas ou acontecimentos específicos, mas enfatizando sensações, sentimentos. "Era pra ser algo bem literário mesmo. Assim, agrada aos amantes de futebol e aos amantes da literatura", diz.
A ideia de escrever crônicas e lançar um livro sobre o futebol surgiu em 2007, quando Carneiro foi convidado para assinar uma coluna no jornal curitibano. O projeto inicial era falar sobre literatura brasileira contemporânea, especialidade do escritor, que leciona a disciplina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). "Troquei umas ideias com o editor e resolvemos abordar o futebol", lembra Flávio, que já recebeu diferentes premiações literárias. Como o veículo é especializado em literatura, o assunto precisou ser tratado dentro dessa vertente. Nascia aí a oportunidade que o escritor tanto esperava: falar sobre sua paixão de infância utilizando sua já apurada habilidade com as letras.
Nascido na capital goiana em 1962, Carneiro teve experiências futebolísticas em dois times amadores. Ainda menino, participou do Selefama, time da Fundação de Abrigo ao Menor Abandonado (Fama), instituição que deu nome ao bairro onde se situava. Mais tarde, integrou o grupo de jogadores do Esporte Clube Jaó, de onde saiu para cursar a faculdade de Letras em terras fluminenses, logo após recusar convite para o futebol profissional no interior de São Paulo. Dividido, Flávio preferiu acreditar no futuro alicerçado numa formação acadêmica, deixando para trás o desejo de seguir carreira no esporte que tanto amava. "Qualquer decisão que eu tomasse, o outro sonho iria cobrar a parte dele", lembra o escritor.
Desde essa decisão, Flávio Carneiro entrou de cabeça nos estudos. Cursou Letras na UERJ e fez mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Católica (PUC Rio) e Pós-Doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O amor incondicional à "redondinha", no entanto, nunca foi totalmente esquecido, sendo constantes as recaídas nos momentos de viagem e lazer. "Nos lugares que visitei, observava essa paixão pelo futebol", lembra. Em Passe de Letra, Flávio aproxima o esporte e a literatura por meio de analogias. Para ele, Garrincha dominava a arte da simplicidade e era tão lírico em campo quanto Drummond em seus versos; Dadá Maravilha fazia graça com a bola, como um grande comediante; enquanto Pelé foi épico, com sua trajetória de superação.
Como teve o romance A Confissão adotado entre as obras para o vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG), Flávio Carneiro fez constantes viagens a Goiânia no decorrer deste ano, para palestras e encontros com estudantes. Apesar de sempre vir à Capital, por conta da família fixada aqui, as visitas se tornaram mais frenéticas após a adoção da obra, lançada em 2006, também pela Editora Rocco, que rendeu ao autor o Prêmio Jabuti em 2007. Agora, além de rever a família, Flávio chega à terra natal para lançamento de seu 12º livro, uma coletânea com fotos pessoais e ilustrações de Mário Alberto, além de orelha assinada por Luis Fernando Verissimo. O livro marca ainda o início da edição de todas as obras de Flávio Carneiro voltadas para o público adulto pela Editora Rocco.



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