Flávio Carneiro
Comentários
Dono da bola: novo livro reúne crônicas sobre futebol
Rogério Borges
Jornal O Popular, Caderno Magazine. Goiânia, 17.11.2009

Se você não fosse escritor, seria o quê? Para Flávio Carneiro, esta pergunta é muito fácil de responder. Como demonstram as 21 crônicas do volume Passe de Letra, que o autor lança hoje em Goiânia, às 20 horas, na Fundação Jaime Câmara, seu destino poderia ter sido os gramados. "São textos sobre futebol que eu escrevi, mensalmente, durante dois anos, para o jornal Rascunho, de Curitiba, especializado em literatura", explica o escritor, que nasceu em Goiânia em 1962, mas fez sua carreira no Rio de Janeiro.
As crônicas não são apenas sobre futebol, apesar de ter esta paixão nacional como tema central. Elas revelam um Flávio Carneiro que poucos conhecem. Ele foi um craque da bola e quase se profissionalizou. "Eu joguei futebol entre os 11 e os 18 anos. Naquela época, só o Goiás tinha categorias de base. O campeonato era disputado por times de associações, por equipes de bairros. Eu joguei em um time chamado Selefama, do Setor Fama."

CAMPEÃO GOIANO
Flávio lembra que o time era treinado por um homem chamado Fausto. "Veja a ironia do nome. Um treinador chamado Fausto, de um time chamado Selefama, mas que era formado por menores que não tinham nome", ri. Por este time, o escritor foi campeão goiano de categorias iniciantes. Depois, transferiu-se para o time do Jaó, onde repetiu o feito. "Quando completei 18 anos, em 1980, fui chamado para jogar no time profissional do Guarani, de Campinas. O Guarani havia sido campeão brasileiro dois anos antes."
O convite veio em má hora. Flávio já se preparava para o vestibular e, em pouco tempo, se mudou para o Rio de Janeiro, para se dedicar aos estudos. "Decidi fazer Letras e largar o futebol. Mas naqueles primeiros anos do Rio, eu com 20, 21 anos, me deu um arrependimento desta decisão", confessa. "Não sei o que teria acontecido se tivesse virado jogador de futebol profissional. Alguns colegas meus deram muito certo, como o Cacau, que hoje é comentarista e jogou no Goiás e no Corinthians. Mas outros não foram para frente."

PELADAS
A bola ainda faz parte de seu cotidiano. Flávio Carneiro, que é professor de literatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mora em Teresópolis, região serrana do Rio, a pouco mais de uma hora de carro da capital fluminense. Lá, ele participa de um grupo de 30 amigos que todos os sábados, religiosamente, se reúne para bater uma bolinha. "Mas é tudo organizado. Tem súmula, artilharia. Nosso time se chama Clube Atlético Duque de Caxias, cuja sigla é Caduca", diverte-se. Ele admite que já deixou de aceitar trabalhos, como a participação em palestras e debates, por conta deste compromisso futebolístico semanal.
Passe de Letra une as duas paixões do escritor, que vem se destacando por uma produção numerosa e de qualidade. Este ano, foi agraciado com um prêmio Jabuti por seu livro A Distância das Coisas, no gênero infanto-juvenil. "No primeiro semestre do ano que vem vou lançar outro infanto, chamado Devagar e Devagando, sobre uma tartaruga e uma vaca, que vive divagando, ruminando."

CONTRATO
O trabalho vai sair pela Editora Rocco, com a qual Flávio assinou um contrato para republicar seus romances e volumes de contos. Isto mostra que o escritor já integra o time de autores brasileiros que são disputados por grandes selos nacionais. O primeiro resultado da parceria é a nova edição de O Campeonato - o romance A Confissão já havia sido lançado pela editora. Os livros são as duas primeiras partes de uma trilogia, que será completada com a publicação de A Ilha, terceiro romance que chegará ao mercado no segundo semestre de 2010.
Este é um projeto do autor que explora diversos gêneros literários. A Confissão, obra indicada para o vestibular da UFG deste ano, é um enredo que pende para o fantástico. O Campeonato é um romance policial e A Ilha será uma ficção científica. "Nesta edição revista de O Campeonato, eu acrescentei uma cena em que o protagonista André tem um pesadelo em que sequestra uma mulher, a amarra em uma poltrona e passa a conversar com ela. Ou seja, ele sonha com o enredo básico de A Confissão. Com isso eu destaco a ligação entre os dois livros."



Outros Comentários



Voltar