Flávio Carneiro
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Bola, rede, palavras: uma leitura de Passe de Letra: futebol & literatura, de Flávio Carneiro
Ewerton de Freitas Ignácio
Anais do SILEL. Volume 2, Número 2. Uberlândia: EDUFU, 2011.

Resumo: Este trabalho tem por finalidade realizar uma leitura de parte do conjunto das crônicas futebolísticas contidas em Passe de letra: futebol & literatura (2009), de Flávio Carneiro, tentando evidenciar que, em seu texto, Carneiro une, de forma poética, memória, futebol e referências culturais e literárias. Levar-se-ão em conta, na leitura que se fará, tanto os procedimentos narrativos quanto os possíveis recursos intertextuais de que o autor lançou mão para melhor caracterizar o seu texto.

Palavras-chave: Literatura brasileira; Crônica; Futebol; Intertextualidade

Introdução

De acordo com Antonio Candido (1992), a crônica é um gênero de leitura leve que, frequentemente publicada em suplementos de jornais diários, destina-se a iluminar, por instantes, a vida de quem a lê, após o que, assim como o veículo em que foi publicada, vai parar no lixo. Evidentemente há exceções, haja vista que há boas crônicas publicadas em livro por cronistas até famosos, mas são textos que constituem uma exceção, e não uma regra.
O surgimento do livro de crônicas Passe de letra : futebol & literatura, publicado por Flávio Carneiro em 2009, não foge ao que Antonio Candido aponta ao discorrer sobre a (função da) crônica em nosso cotidiano. Inicialmente veiculadas no jornal de literatura Rascunho, de Curitiba, editado por Rogério Pereira, as crônicas que compõem o livro supracitado foram escrita nos anos de 2007 e 2008, seguindo a orientação criativa do autor, segundo o qual se deixava levar pelo desejo de “juntar no mesmo espaço duas paixões antigas: futebol e literatura” (CARNEIRO, 2009, p. 7). Interessante notar que, ainda segundo as palavras do autor, para o qual futebol e literatura, como já se observou, constituem duas paixões, o leitor é conclamado, logo no prólogo do livro - ao qual Flávio denomina “aquecimento” -, a participar não apenas da leitura, mas também do “jogo”, uma vez que, ainda tratando do conjunto de crônicas produzidas em 2007 e 2008 e enfeixadas na obra, o cronista afirma: “O resultado está aqui, no livro que serve de abrigo às crônicas publicadas nesse período e que o leitor abre agora, dando início a mais um jogo” (CARNEIRO, 2009, p. 7).
O que segue não é apenas um livro de crônicas futebolísticas, mas, sim, um livro que contempla crônicas em que se verifica o amálgama de vários aspectos, seja o do papel da memória, por meio de um olhar que se volta para o passado a fim de resgatar pedaços de histórias e de jogos passados, seja a costura, nas malhas do texto, de várias referências culturais e literárias, por cujo intermédio o cronista dialoga com outros autores e com outras produções da literatura brasileira e da “historiografia” futebolística nacional, de modo que se tem, na obra, um rico painel de histórias vividas em meio à linha - menos tênue do que se imagina - que entremeia, sem separar, o futebol e a literatura.
Partindo dessas breves considerações, este trabalho tem por objetivo realizar uma leitura do conjunto das crônicas futebolísticas contidas em Passe de letra: futebol & literatura, em especial das crônicas “Dias de chuva”, “Futebol & literatura” e de “Janela ou corredor?”, textos que ilustram nossas considerações sobre essa obra de Flávio Carneiro, quais sejam as de que há, nos textos em tela, a união de forma poética, memória, futebol e referências culturais e literárias. Levar-se-ão em conta, nesse sentido, tanto os procedimentos narrativos quanto os possíveis recursos intertextuais de que o autor se valeu para melhor caracterizar os seus textos.

1. Futebol e intertextualidade em “Dias de chuva”

“Dias de chuva” é a segunda crônica do livro Passe de letra: futebol & literatura, publicado pelo escritor goiano Flávio Carneiro em 2009, e tem como enredo um episódio transcorrido durante a infância do próprio autor, que, desde criança, gostava de futebol: o Estádio Olímpico Pedro Ludovico seria o palco de um jogo entre o Goiás e o Santos, em 1973, sendo que o camisa 10 desse time seria nada menos do que o famoso jogador Édson Arantes do Nascimento, Pelé.
Como era a primeira vez que um time goiano disputava um jogo do Campeonato Brasileiro e, melhor ainda, esse jogo seria no Olímpico, em Goiânia, o narrador, um narrador autodiegético (GENETTE, 1979), que jogava na posição de ponta-direita do Selefama Esporte Clube, ficou ainda mais extasiado quando descobriu que, como a preliminar era disputada por times de crianças, entreviu, nisso, a possibilidade de, além de assistir ao jogo de Pelé, no Olímpico, poder jogar antes no mesmo estádio, sendo assistido, portanto, por seu próprio ídolo. Aconteceu, porém, que, depois de ter tido a confirmação de que seu time jogaria no Olímpico, antes da disputa entre o Goiás e o Santos, cai um grande temporal e o narrador, juntamente com seus colegas, joga uma pelada no campinho enlameado perto de sua casa, após o que pega um enorme resfriado e, por expressas prescrições médicas, é impossibilitado de jogar a que seria a grande partida futebolística de sua vida. Dor maior, no entanto, e que perdurará por toda sua vida, é olhar o retrato que o seu time, vencedor da referida partida, tirou ao lado de Pelé, e que “virou pôster no bar do Fausto” (CARNEIRO, 2009, p. 21).
Em termos temporais, tem-se, na crônica, a predominância do tempo cronológico (NUNES, 1988), já que os eventos narrados se passam no ano de 1973. Além disso, tem-se a referência à data de inauguração do estádio Olímpico, “nos anos 1960, com capacidade para dez mil torcedores e por muitos anos ostentando o título de maior e mais moderno do centrooeste” (CARNEIRO, 2009, p. 17). Não obstante isso, também se pode notar a presença do tempo psicológico (NUNES, 1988), já que, reportando-se, no presente, a um evento ocorrido em seu passado, por meio de um discurso entretecido pela rememoração, qual seja o episódio a que o narrador, entre saudoso e pesaroso, alude em sua crônica.
Embora o tempo predominante na crônica seja o do pretérito, não se nota, por parte do supracitado narrador, o retrato de um inelutável sentimento de nostalgia, ou a configuração de um olhar - melancólico - que se debruça sobre o passado com a pretensão de trazer à tona lembranças de fatos dos quais se tem saudade. Ao contrário: tem-se, no texto, a alusão a um fato decorrido que, conquanto tenha trazido certo contratempo - e por que não arrependimento? - ao narrador, é entrevisto, por ele, por meio de uma ótica bem-humorada, um dos propósitos da modalidade textual por meio da qual ele tão bem se expressa (CANDIDO et al, 1992).
É necessário que se observe que, na construção da narrativa, ganha importância um recurso empregado pelo autor e que, embora possa passar despercebido por alguns leitores, acaba por enriquecer o texto, na medida em que lhe confere um maior grau de literariedade. Trata-se do recurso do intertexto, ou seja, da referência a um poema do poeta Carlos Drummond de Andrade
De acordo com Ingedore V. Koch e Vanda Maria Elias (2006), a intertextualidade ocorre no momento em que um texto está inserido em outro texto anteriormente produzido (o que configura um intertexto), que faz parte da memória social de uma dada coletividade. Dito de outra maneira, a intertextualidade é uma alusão ou uma incorporação de um elemento discursivo a outro, podendo-se reconhecê-lo quando um autor constrói a sua obra com referências a textos, imagens de outras obras e autores e até por si mesmo, como uma forma de reverência, de complemento e de elaboração do nexo e sentido deste texto/imagem.
A esse respeito, vale lembrar o que assevera Mikhail Bakhtin (2003), para quem não há textos puros. Nesse sentido, todo texto é um emaranhado de vozes (polifonia), um emaranhado de outros textos. Desse modo o teórico russo se pronuncia:




[...] por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema corresponde no texto tudo o que é repetido e reproduzido e tudo o que pode ser repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora do texto (dado). Concomitantemente, porém, cada texto (como enunciado) é algo individual, único e singular, e nisso reside todo o seu sentido (sua intenção em prol da qual ele foi criado) (BAKHTIN, 2003, p. 309-310).



Nas últimas linhas da crônica, o narrador afirma que “Parafraseando Drummond, diria hoje que aquele jogo é apenas um retrato na parede. Mas como dói” (CARNEIRO, 2009, p. 21). E qual a obra do poeta mineiro é citada, implicitamente, pelo escritor goiano? Trata-se do poema “Confidência do itabirano”, no qual o sujeito poético afirma, em seu momento presente - o de alguém que, já adulto, mora no Rio de Janeiro, que a cidade mineira de Itabira, onde o poeta nascera, o seguinte: “Itabira é apenas uma fotografia na parede/ Mas como dói”.
Reportando-se ao discurso poético drummondiano, Flávio Carneiro insere seu texto - nos termos propostos por Bakhtin -, em uma linha de continuidade discursivo-literária que o insere num sistema, mas que, ao mesmo tempo, não o destitui de sua singularidade semântica e artística. Nesse aspecto, importa pensar sobre os sentidos do retrato em ambos os textos: tanto a fotografia que virou pôster “no bar do Fausto”, na crônica de Carneiro, quanto na fotografia da cidade natal de Drummond. No primeiro, repontam uma saudade e um certo pesar, um certo arrependimento; no segundo, uma saudade e um sentimento da transitoriedade da vida, que muda gostos, pessoas, paisagens. Em ambos, o retrato de um tempo pretérito que se cristaliza na lembrança por meio da fotografia - metáfora da memória, da saudade e da fugacidade da vida e de todas as coisas.

2. Aspectos comuns entre/em “Futebol & literatura”

A crônica “Futebol & literatura” se inicia com uma referência à célebre frase shakespeariana segundo a qual “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”, pois o narrador afirma, na releitura que faz do famoso poeta inglês, que “Há mais afinidades entre futebol e literatura do que sonha nossa vã filosofia” (CARNEIRO, 2009, p. 29). O que segue é um texto em que se constroem, o tempo todo, comparações e analogias insuspeitas e inusitadas entre as duas grandes paixões do narrador: a literatura e o futebol.
Roberto DaMatta, que estuda o futebol como um fenômeno cultural brasileiro, afirma que




O futebol não é apenas uma modalidade esportiva com regras próprias, técnicas determinadas e táticas específicas [...] O futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar. É uma maneira do (sic) homem nacional extravasar características emocionais mais profundas, como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras (DAMATTA apud CARRANO, 1998, p. 35).



DaMatta toca, talvez sem se dar conta disso, em um dos pontos de intersecção entre o futebol e a literatura ao afirmar que essa modalidade esportiva - que não é apenas isso - constitui uma forma de expressão de toda a sociedade brasileira. Acaso a literatura, dentre outras coisas e dentre outras “funções”, também não constitui uma forma de expressão, com técnicas e “regras” que lhes são próprias? É essa a percepção que tem Flávio Carneiro, a partir da qual realiza as criativas comparações entre a arte da palavra e a arte de se lidar com a bola, essas duas formas de expressão do homem e, por extensão, da sociedade.
O narrador principia afirmando que, assim como o futebol, “a literatura também é um jogo. E como jogo, tem suas regras” (CARNEIRO, 2009, p. 29), afinal o escritor, a despeito de sua indiscutível liberdade de criação, escreve dentro de certos padrões, dentro de certos princípios, cuja não observância pode contrariar o leitor, que deve, acima de tudo, aceitar o texto como um dado coerente em si mesmo, ainda quando seja, aparentemente, incoerente.
Além disso, o papel da interpretação, tão presente no processo de leitura/entendimento do material literário, também está presente no contexto futebolístico, já que




a maioria das regras do futebol depende de interpretação. É a leitura feita pelo árbitro que determina se um zagueiro atrasou intencionalmente ou não a bola para o goleiro (aí ele não pode pegá-la com as mãos), ou se o atacante colocou a mão na bola de propósito e fez o gol da vitória, ou se aquele carrinho merecia cartão vermelho, amarelo ou só uma advertência verbal e passar bem. Resumindo, no futebol, como na literatura, tudo depende de como se lê (CARNEIRO, 2009, p. 31-32).



O narrador prossegue tecendo as comparações por meio dos quais aproxima a realidade do futebol com o universo da literatura, demonstrando que ambos apresentam aspectos que os tornam mais parecidos e afins do que - como muitas vezes se acredita - elementos que os distanciam.
Ao final da crônica, o narrador deixa ao leitor que porventura ainda estiver um tanto hesitante em aceitar as aproximações entre ambos - literatura e futebol - uma pergunta: “como definir um passe de letra?” (CARNEIRO, 2009, p. 34). Pergunta à qual a crônica não oferece nenhuma pista de resposta, e que se volta para a própria obra de que esse texto é parte, instigando o leitor menos incauto a participar dos jogos interpretativos não só da crônica em tela, mas de do livro como um todo, ou seja, de todo o (livro) Passe de letra.

3. Dúvida e (in)certeza em “Janela ou corredor?”

De acordo com Fátima Antunes, o futebol é “uma dimensão da cultura brasileira construída no dia-a-dia, nas conversas de segunda-feira entre colegas de escola e de trabalho, nos desafios e nas apostas anteriores aos jogos, no reconhecimento do outro, que veste a camisa do clube do coração, um irmão na dor e na alegria” (ANTUNES, 2004, p. 17), de modo que se constitui, essa modalidade esportiva, para milhões de brasileiros, uma verdadeira paixão; daí, inclusive, a pertinência do surgimento da expressão “paixão nacional” como definidora dessa relação extremamente próxima - ou seria melhor dizer apaixonada? - de muitos brasileiros com o futebol.
Flávio Carneiro é um desses milhões de brasileiros que nutrem, pelo futebol, essa grande paixão que, ao que parece, não foi herdada do pai (CARNEIRO, 2009, p.44). Se o gosto por essa modalidade esportiva não lhe veio do pai, o gosto pela literatura, ao contrário, parece ter sido, se não herdado, estimulado, não apenas pelo pai, mas também pela mãe, já que os textos (contos, redações) que o menino Flávio escrevia no colégio, eram depois datilografados por seu pai - que era datilógrafo - e costurado por sua mãe, do que resultavam livretos que, depois, eram lidos pelos três.
É a história da convivência - nem sempre pacífica ou isenta de incertezas - dessas duas paixões, futebol e literatura, no interior do autor, que serve como enredo de “Futebol & literatura”: a crônica se inicia com uma consideração sobre um tema de redação, “Meu grande sonho”, o qual havia sido passado pela antiga professora do menino Flávio, que, inesperada e surpreendentemente - para ele mesmo - afirmou, em seu texto, que seu maior sonho era ser escritor. Acontece que ele também tinha o sonho, o sonho consciente, de ser jogador de futebol. Qual era seu principal sonho então?
A situação se adensa quando, depois de um jogo em que, ao invés de fazer um gol aos 44 minutos do segundo tempo, após uma jogada extremamente favorável que lhe fizeram, o narrador distrai-se e deixa a bola passar sair pela linha de fundo. Já no vestiário, ele ouve um massagista comentar, sobre ele, que “esse menino até que leva jeito, mas de vez em quando apaga, some no jogo, parece que está no mundo da lua. E arrematou: parece poeta” (CARNEIRO, 2009, p. 38). Nesse momento as coisas pareciam se encaminhar no sentido de aproximar o narrador de sua paixão de ser escritor, ao mesmo tempo em que o distanciava da vontade de ser futebolista. Será? Teve um dia em que a escola onde ele estudava contratou os serviços de uma psicóloga que fazia testes vocacionais e o resultado do teste de Flávio foi conclusivo, taxativo: “desaconselhamos qualquer atividade ligada a redação” (CARNEIRO, 2009, p. 39).
A vida do narrador segue, então, e seus “dois sonhos foram se batendo todos os dias, até que chegou o momento do apito final” (CARNEIRO, 2009, p. 39), que se dá ele, aos dezoito anos, acaba não aceitando um convite para jogar no Guarani, de Campinas, e faz vestibular para Letras na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Essa escolha, porém, não foi isenta de questionamentos ou alguma dúvida, afinal trata-se de dois sonhos, e a escolha de um significou abrir mão do outro. Fazer o que? A crônica é finalizada, então, com uma referência ao que diria João Saldanha, qual seja “vida que segue” (CARNEIRO, 2009, p. 41). Sim. Flávio Carneiro fez sua escolha; e a vida segue. A literatura e muitos leitores, por sua vez, agradecem.

Considerações finais

O futebol, considerado unanimemente como uma “paixão nacional” - ainda que nem todo brasileiro goste desse esporte -, hoje não se restringe apenas aos campos e noticiários esportivos, na medida em que provocou transformações ao ponto de, hoje, constituir assunto discutido no âmbito acadêmico. Essas discussões, no entanto, não são necessariamente recentes, posto que no começo do século XX tais discussões já se faziam notar entre literatos e eram veiculadas em jornais, principalmente no período em que o futebol deixava de ser um jogo elitizado para tornar-se popular. Anos mais tarde, nas décadas de 1960 e 1970, depois de o Brasil ter sido consagrado como campeão mundial nesse esporte, o interesse pelo futebol - e por suas implicações em outras áreas - intensificou-se.
Flávio Carneiro, amante do futebol e da literatura, duas paixões entre as quais se divide desde sua mocidade, traz o tema do futebol não apenas para o universo da literatura, ou leva a literatura para os domínios do futebol, mas também, de maneira direta - ele é professor universitário - e de maneira indireta - seu livro de crônicas futebolísticas constitui tema de abordagens críticas e acadêmicas -, acaba fazendo com que o futebol seja apreciado de uma forma que não se restringe apenas à emoção de se assistir aos jogos, mas de um modo mais abrangente, na medida em que atinge muitas pessoas que, mesmo sem nunca terem ido a um estádio ou que sequer assistiram, em casa, a uma partida inteira, se familiarizem tanto com a emoção de um torcedor/contista/jogador de peladas amante do futebol quanto com alguns elementos - regras, táticas - inerentes ao futebol.
Ainda a respeito da importância do futebol e de sua abordagem, seja no discurso literário ou no contexto maior da cultura, Ronaldo Helal observa que a importância que o Brasil teve na origem dessa modalidade esportiva foi fundamental para confirmar a representação de ser considerado o País do futebol.




[...] certamente o torcedor de futebol mais “fanático” do Brasil não se interessaria por esse esporte caso tivesse nascido e sido criado no Japão ou nos Estados Unidos. Da mesma forma, poderíamos dizer que Pelé, Garrincha, Rivelino e Zico não teriam tido a menor intimidade com a bola nos pés, caso tivessem nascido e sido criados na China, no Japão, nos Estados Unidos ou na Austrália (HELAL, 1990, p. 13).



Se Ronaldo Helal está certo, em sua consideração sobre as relações entre futebol, jogadores e torcedores brasileiros, é de se esperar, por extensão, que Flávio Carneiro não teria escrito um livro de (ótimas) crônicas futebolísticas se não tivesse nascido no Brasil. Considerando o caráter memorialístico, intertextual, apaixonado e apaixonante de suas crônicas, sorte dos brasileiros que Flávio é brasileiro.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos Drummond. Sentimento do mundo. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
ANTUNES, Fátima M. R. F. “Com brasileiro não há quem possa!”- Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: ______ et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas/Rio de Janeiro. Ed. Da UNICAMP/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
CARNEIRO, Flávio. Passe de letra: futebol & literatura. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
CARRANO, Paulo C. R. (coord.) Paixão e Política. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 2000.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 1998.
GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Trad. Fernando Cabral Martins, Lisboa: Vega, 1979.
HELAL, Ronaldo. O que é sociologia do esporte? 1º ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.
KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
NUNES, B. O tempo na narrativa. São Paulo: Ática, 1988.
PEDROSA, Milton. Gol de letra - o futebol na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Gol, 1967.



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